LIVRO -CANJIQUINHA A ALEGRIA DA CAPOEIRA 1989






Meu nome é Washington Bruno da Silva, conhecido como Canjiquinha ou mestre Canjiquinha. Nasci em 1925, 25 de Setembro, no Maciel de Baixo, bem no centro de Salvador. Aprendi capoeira em 1935 e meu mestre foi o finado Aberrê. Se eu sei alguma coisa, a ele eu agradeço.
Eu era menino, menino. Tinha lá uma baixada chamada Matatu Preto, um morro no bairro do Matatu e lá embaixo tinha um largo, um terreiro. Lá, aos domingos, vinham todos aqueles capoeiristas, vinha Onça Preta, Geraldo Chapeleiro, Totonho Maré, Creoni, Chico Três Pedacos, Pedro Paulo Barroquinha, finado Barboza e esse cidadão chamado Antonio Raimundo, apelidado por todos Aberrê. Todo domingo eu ia la olhar, até que um dia ele me chamou e disse: “Meu fio, venha cá. Cê que aprende capoera?” Eu disse: quero. Então ele mandou eu me abaixar e vupt, deu um chute. Eu depressa dei um pulo pra trás e ele: “Óia, meu fio, a partir de hoje vô lhe ensina.”
A partir desse dia, todo domingo eu tava la e ficava naquela: vai pra lá e vem pra cá, isso é assim, desce pra lá, negativa e queda de rim… E assim ia. Às vezes ele mandava eu ficar em pé e me empurrava. Eu perguntava: “Por que empurra assim?” E ele: “Por que empurra?” e se amanhã cê tiver na rua e um cara lhe empurra? Cê sabe cair?
Lá dava muita confusão, dava barulho, porque lugar com mulher e cachaça é assim. Aí, como diz o baiano, pau quebrava. Então a polícia vinha e todos corriam, mudava pra outro bairro. Depois de um tempo eu já tava acompanhando eles nas outras rodas, ia na Liberdade, no Gengibirra, no Segundo Arco.
Por muito tempo a polícia perseguiu a capoeira, demais. Mas em 1940 ela já estava nas festas de largo, nas festas populares. Naquele tempo quem era da capoeira era o homem do povo, era sapateiro, alfaiate, motorista, eram pessoas escuras, de pouca cultura, mas não eram valentões. A gente fazia aquilo pra se distrair e quem ensinava não tinha interesse financeiro, ensinava por amor.
Um dia eu senti que devia aprender a tocar bem o berimbau. Vi um criolo estivador tocando, mestre Zeca do Uruguaio, e gostei demais. Me aproximei, pedi a ele que me ensinasse. Ele me mandou tocar um pouco pra ele ver e depois só disse: “eu vou lhe ensinar”. A partir desse dia, toda manhã eu ia lá com o meu berimbau, ele tocava o dele, eu tocava o meu. Ele me mostrou como tocar, me ensinou os toques e muitas cantigas, milhares de cantigas, muitas já nem me lembro mais. Me ensinou que o berimbau rege a roda da capoeira, que o capoeirista tem que jogar conforme o ritmo que o berimbau impõe e tem que obedecer a chamada e os avisos do berimbau. Hoje ninguém mais segue: o berimbau tá tocando num ritmo e o capoeirista tá jogando em outro. Antigamente não se falava em jogo, se falava em luta. Ou então a gente chamava: vamos dar uma vadiagem? E ficava lá na roda brincando, se distraindo, era um lazer. E capoeira pra mim é amor, é alegria, é beleza… [São Paulo, set. 85 – set. 86] Mestre Canjiquinha.

1. O MACACO E O LEÃO
Iê O macaco e o leão O macaco e o leão Fizeram combinação O macaco na levada Dois leão passou a mão Mariposa não me prenda Dentro do teu coração Você tem dente de ouro Foi eu que mandei botar Vou te rogar uma praga Pr’esse dente se quebrar Ei aquinderreis Ê, aquinderreis, camará Ê, mas viva o coro Ê, mas viva o coro, camará Viva a Bahia Ê, viva a Bahia, camará Ê, volta do mundo Ê, volta do mundo, camará

2. AI, AI, AIDÊ
Ai, ai, Aidê Joga bonito que eu quero ver Ai, ai, Aidê Oi começa, vai você Ai, ai, Aidê Joga bonito que eu quero aprender Ai, ai, Aidê Oi já começa, vai você Ai, ai, Aidê Joga bonito que eu quero aprender

3. QUANDO EU FUI PRA LIBERDADE
Quando eu fui pra Liberdade Quando eu fui pra Liberdade Eu passei pelo Barbalho Encontrei Getúlio Vargas, oi meu bem Com o Ministro do Trabalho A baleia me pediu Dentro da veneração Que arpoasse na cabeça, meu bem Não é nas cadeiras, não É verdade, Waldemar Sua palavra valeu O discípulo deu no mestre, ai meu bem Capoeira me venceu Ê, galo cantou Ê, galo cantou, camará Ê, cocorocou Ê, cocorocou, camará Meta a faca nele Ê, meta a faca nele, camará Ele é cabeceiro Ele é cabeceiro, camará

4. O BRASIL DISSE QUE SIM
O Brasil disse que sim O Brasil disse que não O Brasil disse que sim Mas o Japão disse que não Duas esquadra poderosa Pra brigar com alemão Dei meu nome, agora eu vou Num sorteio militar Quem não pode com mandinga, ai meu bem Não carrega patuá Quem não pode não inventa, o meu bem Deixa quem pode inventar Ê, ai di lê lê Ê, ai di lê lê, camará Ê, que vai fazer Ê, que vai fazer, camará

5. OLHA O NOME DO PAU
Olha o nome do pau é pindombê Olha a copa do pau É pindombê Olha o nome do pau É pindombê Olha a copa do pau É pindombê Olha a cinza do pau É pindombê Olha o nome do pau É pindombê

6. JOGUEI MEU LENÇO PRA CIMA
Joguei meu lenço pra cima Joguei meu lenço pra cima Aparei no canivete Quem me ensina esta quadra, o meu bem Foi o Bamba 17 Joguei meu lenço lá em cima De maduro foi ao fundo Tirei carta de malandro, o meu bem Certidão de vagabundo Na roda da malandragem, ai meu bem Eu não dei meu passo errado E, galo cantou E, galo cantou, camará E, cocorocou E, cocorocou, camará E, viva meu Deus E, viva meu Deus, camará

7. VOU DIZER A MEU SINHÔ
Vou dizer a meu sinhô Que a manteiga derramou Mas a manteiga não é minha Mas a manteiga é de ioiô Vou dizer a meu sinhô Que a manteiga derramou Mas a manteiga não é minha Mas a manteiga é de ioiô Vou dizer a meu sinhô Que a manteiga derramou

8. ERA EU, ERA MEU MANO
Era eu, era meu mano Era eu, era meu mano Era meu mano mais eu Eu vi a terra molhada, meu bem Mas não vi quando choveu Era eu, era meu mano Quando os dois andava junto Eu não sei se Deus consente, oi meu bem Numa cova dois defunto Dedo de munheca é dedo Dedo de munheca é mão Sangue corre pela veia, oi meu bem Na palma da minha mão E, aquinderreis E, aquinderreis, camará Joga-te pra lá E, joga-te pra lá, camará Joga-te pra cá E, joga-te pra cá, camará


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